Estava voltando para casa um dia desses, quando ao olhar para uma casa simples, um ou dois cômodos apenas, junto a um bar há muitos anos fechado, vi um espelho, de aproximadamente vinte por vinte e cinco centímetros, fixado na parede, mais ou menos a meio metro acima do tanque de lavar roupas. Muita gente deve estranhar tal coisa, e ficar se perguntando o por quê dele estar ali. Pois eu explico, pois eu já tive este "espelhinho" sobre o tanque. Quem leu meu post anterior deve estar lembrado que morei no centro, onde hoje há apenas estacionamento. Pois bem. Nossa casa era bem simples: dois quartos, sala, copa, cozinha e banheiro. Mas o banheiro... era do lado de fora da casa, mais precisamente, uns dez metros distante da casa. Muito básico: vaso sanitário e chuveiro. Sem box e sem pia. Entenderam? Isso mesmo... usávamos o tanque para lavar as mãos, o rosto, escovar os dentes... e por isso, o espelho.
Imediatamente, senti saudades de um tempo em que tudo era mais simples. As memórias que tenho da minha casa da infância são nítidas, ainda vivas em minha mente e ao ver aquele espelho comecei a revê-las como a um filme. Festas de aniversário em casa, com decorações simples, esfirras, bolo e brigadeiro (pra que dez tipos de salgadinhos e oito tipos de docinhos?). Brincadeiras no quintal e fotografias que tinham que ser reveladas para montarmos nosso "albinho". Amigos que iam em casa para brincar, ou para comer goiaba em cima da goiabeira. Jogar manga verde para derrubar manga madura. Passar mal de tanto comer jabuticaba. Sim, tínhamos tudo isto no quintal. Vendi juju (gelinho, sacolé, chame aquele suquinho congelado num saquinho comprido como quiser) em frente ao colégio e de volta pra casa. Tempos bons. Tempos que não voltam mais e que meu filho nunca terá. Os tempos são outros, e por isso, devo torná-los inesquecíveis pra ele também.
Mudando de assunto... mais um ano está acabando e estou a cada dia mais convencido de que o tempo está "nos pregando uma peça" (posso jurar que este ano foi mais curto que o ano passado). Hora de avaliar o que fizemos e fazer planos para o próximo ano (isto é, se o mundo não acabar). Apesar de curto, o ano foi bom. Mantive vários hábitos que adquiri durante minha reeducação alimentar; fui "arrancado" de minha zona de conforto no trabalho mais uma vez; fiz novos amigos (no trabalho e nas "jogatinas"); arrumei tempo para me dedicar mais à minha saúde; voltei a ler mais... mas... gostaria de ter visto mais meus amigos mais "antigos"; ter passado mais tempo com meu filho; com minha esposa; não que não tenha ficado com eles, mas acredito que este tempo poderia ter tido mais qualidade (preciso rever isto pra 2013).
É isto... a trilha sonora de hoje foi melancólica, propositalmente. Frank Sinatra, In The Wee Small Hours, de 1955. Lançado pouco depois de o romance entre Sinatra e Ava Gardner ter terminado, esse rompimento talvez tenha tornado este o melhor álbum de todos os tempos sobre o tema separação. O Sinatra do imaginário popular, aquele sujeito meio malandro, sempre com uma piada na ponta da língua, não aparece aqui - ele é um homem, apenas. E em seguida, Billie Holiday, Lady In Satin, de 1958. Ao desnudar standards como "You don't know what love is" e "Glad to be unhappy" até sobrar apenas a emoção, Holiday canaliza seu orgulho junkie para os blues mais sinceros já gravados. São canções-guia, diferentes de tudo que o jazz já havia cantado antes: o amor é pintado como loucura, desespero, resignação, com uma brutal honestidade. (comentários extraídos do livro 1001 Discos para ouvir antes de morrer, da editora Sextante).
Bem... se o mundo não acabar, um Feliz Natal a todos, boas festas de final de ano e comecemos 2013 especulando novas profecias apocalípticas! Abraços a todos... fui!