quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Reflexões acerca do passado

Ok... eu sei que deveria ter escrito antes mas, não deu. Gostaria realmente de escrever com mais frequência. Assim como gostaria também que meu trampo não me consumisse tanto, minhas dívidas não chegassem tão rápido, e por aí vai... Meu amigo Jack Daniels, fiel parceiro nestes momentos de introspecção, fica ali no balcão, quietinho, engarrafado, olhando para mim com aquela liquidez âmbar, translúcida, melancólica...
Mas agora, sobre o tema deste post, eu lhe pergunto: Se você tivesse a oportunidade de mudar algo em seu passado... "consertar" algum erro cometido, ir a algum lugar que decidiu não ir e se arrependeu, abordar aquela garota do colégio que você nunca teve coragem por causa da timidez adolescente, dizer sim àquele namorado, naquela noite romântica, que nunca mais se repetiu... Você mudaria?
Nossa "pop culture" está abarrotada de exemplos, bons e ruins, acerca deste tema. Filmes como a trilogia "De volta para o futuro", "Efeito Borboleta", mostram as terríveis consequências de atos deste tipo. Mas sempre ouvimos alguém dizer que "se tivesse outra oportunidade faria diferente".
Fiquei refletindo a respeito, e acredito que não. Não mudaria nada. Pensei em várias coisas que gostaria que tivessem acontecido de outra forma, e fui além. O que aconteceu depois? Aconteceria da mesma forma se houvesse acontecido diferente o fato anterior? E cada coisa que veio depois? Como seria minha vida hoje? E se você fizer também este exercício de reflexão, com sinceridade e um pouco de imaginação, verá que sua vida seria hoje bem diferente do que é. Seus amigos provavelmente seriam outros, seu parceiro ou parceira, talvez fosse outro também, se você tem filhos, poderia não os ter ou vice-versa. Poderia ser mais rico e bem sucedido, mas também poderia nem estar vivo hoje. Poderia estar submetido a uma invalidez ou estar em um palco, tocando blues para centenas, ou quem sabe milhares, de pessoas.
A pergunta que deixo aberta no final deste texto é diferente, e complementar, à que fiz no início... Valeria a pena?

A trilha sonora de hoje ficou a cargo de Eric Clapton ao lado do grupo Derek and the Dominos, com quem Clapton gravou o genial Layla and Other Assorted Love Songs. Na virada dos anos 70, depois do final do Cream, Clapton entrou em duas roubadas que mudariam sua vida: apaixonou-se pela mulher do melhor amigo e afundou-se na heroína e no álcool. Alguns chegam a afirmar que, exatamente por estar passando por tanta dor, Clapton gravou alguns de seus melhores blues nesta fase, como "Nobody Knows When you're Down and Out" e "Key to the Highway", ambas do disco acima.

Fui...                          mas volto.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

E comecemos então...

Espero que todos tenham começado o ano bem... deixemos as mazelas do passado, no passado. O texto a seguir é de Fernando Rosa e foi publicado na revista Super Interessante Especial - A História do Rock Brasileiro. Ao invés de Era uma vez... a História do Nosso Rock começa assim...

"FOI TUDO CULPA DO CINEMA. Um filme sobre rebeldia, uma canção arrebatadora e aconteceu que uma respeitável cantora de samba-canção acabou envolvida com esse tal 'novo ritmo', o rock'n roll. E, ainda que aquilo fosse visto como mais um modismo para os salões de dança, o que ocorreu nos estúdios da Continental naquele mês de outubro de 1955 ressoa até hoje. Foram os primeiros e acanhados passos da música jovem brasileira.
'A surpresa, outro dia, no programa de César de Alencar (na Rádio Nacional), foi Nora Ney cantando em inglês uma melodia que estava sendo lançada num filme', dizia uma notinha da Revista do Rádio, em sua edição de novembro de 1955. A tal 'melodia' era 'Rock Around the Clock', gravada às pressas em disco de 78 rpm, no final de outubro, em cima da versão original de Bill Haley & His Comets, da trilha sonora do filme Sementes da Violência. O senso de oportunidade funcionou: lançada pela gravadora Continental, em uma semana a música já ocupava o primeiro lugar das paradas, reproduzindo o sucesso do filme de Richard Brooks. E assim nascia o primeiro rock gravado no Brasil, pela voz de Nora Ney, cantora de samba-canção de sucesso. Então com 33 anos, Nora cumpria o papel de preencher o espaço ainda não ocupado por artistas jovens, que só foram entrar em cena alguns anos depois. O insólito de Nora Ney interpretando 'Rock Around the Clock' se deveu, além de suas óbvias qualidades vocais, à sua familiaridade com a língua inglesa. Ou seja, o rock brasileiro nasceu por causa da boa dicção de uma cantora de fossa."
"Em 1955, canções eram disputadas como commodities valiosas. As outras gravadoras ficaram em polvorosa por causa do sucesso e, logo em dezembro, a pioneira gravadora Odeon (atual EMI) lançou uma versão em português do sucesso, de autoria de Júlio Nagib, que virou 'Ronda das Horas' e foi gravada por Heleninha Silveira. A Colúmbia (atual Sony Music) também apostou na música, produzindo outra versão, com o acordeonista Frontera, também lançada em dezembro. As duas gravações não tiveram repercussão porque a juventude queria mesmo era ouvir algo próximo do original que conhecera no cinema."
"O estouro de 'Rock Around the Clock' que detonou o surgimento do rock'n roll no Brasil aconteceu, como em todo mundo, por meio do filme Sementes da Violência. Retratando os conflitos de uma juventude que começava a buscar seu espaço na sociedade, o filme estreou em São Paulo e no Rio de Janeiro em outubro de 1955 - no calor da morte trájica do maior ídolo jovem da época, James Dean. A situação de 'descontrole' da juventude, que chegava a depredar cinemas ao som do rock, não agradou às autoridades. Em muitos casos, o filme chegou a ser proibido (...). O governador de São Paulo, Jânio Quadros ordenou ao secretário de Segurança que determinasse 'à polícia deter, sumariamente, colocando em carro de preso, os que promoverem cenas semelhantes; e, se forem menores, entregá-los ao honrado juiz'. como efeito, o juiz de menores, Aldo de Assis Dias, baixou uma portaria proibindo o filme para menores de 18 anos, argumentando (com uma irônica precisão) que 'o novo ritmo é excitante, frenético, alucinante e mesmo provocante, de estranha sensação e de trejeitos exageradamente imorais'."
"Passada a explosão inicial de 'Rock Around the Clock' na versão original e na cover de Nora Ney, Elvis já estava entronado como o 'Rei do Rock' em todo mundo (...). No Brasil, novas gravações marcavam os primeiros passos do rock. 'Rock and Roll em Copacabana', de autoria de Miguel Gustavo (compositor do célebre hino da Copa de 1970, 'Pra Frente Brasil'), é apontada como o primeiro rock originalmente composto em português. Lançada em 1957 pela RCA Victor, a música foi cantada por Cauby Peixoto, àquela altura o cantor mais popular do país. Cauby havia chegado recentemente dos Estados Unidos, onde flagrara in loco o furacão Elvis. A letra descreve a entrada do rock na cena carioca e no Brasil com uma incendiária levada rhythm'n blues. 'Revira o corpo, estica o braço, encolhe a perna e joga para o ar... Eu quero ver qual é o primeiro que essa dança vai alucinar... e continua a garotada na calçada a se desabafar', diz um trecho da letra."
Ainda em 1957, outro famoso cantor popular emplacou na primeira fase do rock brasileiro. Era Agostinho dos Santos, que gravou 'Até Logo, Jacaré', uma cover em português para 'See You Later, Alligator'. em maio do mesmo ano,Carlos Gonzaga gravou 'Meu Fingimento', versão de 'The Grat Pretender', dos Platters. Enquanto isso, um grupo de jovens cariocas se reunia no cruzamento das ruas Haddock Lobo e Matoso, em frente ao Cine Roxy, na Tijuca, para conversar sobre a nova onda. Eram Erasmo e Roberto Carlos, Tim Maia, Jorge Ben, e outros. Seriam ele, numa daquelas trajetórias fantásticas de que a história do rock é repleta, que dariam identidade ao gênero no Brasil. E tudo graças ao rastro explosivo deixado por 'Rock Around the Clock'."

A trilha sonora de hoje é composta por duas coletâneas:

'Estúpido Cupido' - Som Livre. A novela de Mário Prata, exibida entre 1966 e 1967, caiu como uma luva na onda de revival dos anos 50 e levou toda a primeira geração do rock brasileiro ao grande público. Até então eram só velharias, mas embaladas na excelente trama, gemas como 'Broto Legal' (Sérgio Murilo), 'Neurastênico' (Betinho), 'Bata Baby' (Wilson Miranda) ganharam ares de clássico. Os primeiros e definitivos clássicos do pop nacional.

'No tempo do Rock'N Roll - anos 50 e 60' - Revivendo. Uma coletânea caprichada, menos romântica e mais informativa que 'Estúpido Cupido', inclui as fundamentais gravações de Nora Ney (Rock Around the Clock) e Cauby Peixoto (Rock and Roll em Copacabana) além de pérolas como 'Rock do Mendigo' com Moacir Franco, 'Meu Fingimento' com Carlos Gonzaga e 'Biquíni de Bolinha Amarelinha tão Pequenininho' com Ronnie Cord.

Fui...